domingo, 21 de janeiro de 2024

RELATÓRIO SOBRE DIREITOS HUMANOS - Discurso do Presidente da LGDH

Distintos representantes das organizações da sociedade civil

Ilustres Presidentes regionais da LGDH

Caros ativistas dos direitos humanos

Ilustres Convidados

Minhas senhoras e meus senhores

Permitam-me em nome da LGDH e em meu nome pessoal endereçar

calorosas saudações a todos, cuja presença nos honra bastante e faz desta

singela cerimónia um momento ímpar e simbólico nesta árdua, mas

gratificante, luta pela defesa e promoção dos direitos humanos.

Como vem sendo já tradição, a LGDH lança hoje mais um relatório sobre

a situação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, o qual reporta-se ao

período compreendido entre os anos, 2020 à 2022, sob o tema “Resistir

ao autoritarismo, reviver Cabral”. Este relatório constitui também uma

homenagem ao fundador da nacionalidade guineense o Eng. Amílcar

Lopes Cabral, cujo centenário de nascimento se comemora este ano,

numa altura em que se assiste a mais uma morte dos seus ideais e sonhos.

O documento cuja apresentação acabamos de assistir, é fruto de uma

relação de paixão e de compromisso com a defesa dos valores que

constituem o âmago da nossa organização e a razão de existência do

Estado de direito.


Este relatório traduz-se em mais um contributo da LGDH para o reforço

do sistema nacional de proteção dos direitos humanos e visa fornecer aos

atores nacionais e internacionais um panorama geral e realista da situação

dos direitos humanos na Guiné-Bissau. Importa referir e destacar que este

relatório conta com dados de um sistema de recolha próprio, assente

numa metodologia coerente de monitorização direta dos indicadores dos

direitos humanos em todo o país. Igualmente, a produção deste

documento contou com a colaboração de especialistas de diversas áreas

temáticas de direitos humanos.

O período a que se reporta o relatório é marcado por maior recuo na

promoção e defesa dos valores da dignidade da pessoa humana, sendo

que os problemas anteriores, longe de serem superados, transitaram para

o período contemporâneo e deram origem aos novos desafios. Refiro-me

nomeadamente a ineficácia e ineficiência da justiça estadual, que

continua a reclamar com carácter de urgência uma reforma profunda para

poder fazer face aos desafios da impunidade, da criminalidade

organizada e transnacional, da violência com base no género, da

exploração de crianças, assim como da corrupção e/ou gestão danosa dos

recursos públicos que estão a corroer as bases da nossa frágil economia.

Nestes três últimos anos o país conheceu fenómenos nunca antes vistos

na Guiné-Bissau, refiro-me aos casos de raptos e espancamentos de

cidadãos, perpetrados por um grupo de milícias patrocinados por certas

estruturas de Estado, com a missão de praticar atos que na perspetiva da

Liga, correspondem inequivocamente a terrorismo de Estado.

Igualmente, o povo guineense assistiu atos de perseguições e

intimidações dos profissionais de comunicação social, repressão da

oposição democrática traduzida nas detenções arbitrárias de dirigentes

políticos e perseguições das vozes discordantes, impedimentos

sistemáticos e ilegais de viagens ao estrangeiro, intimidações e

instrumentalização da justiça para fins político partidário, sem ignorar as

tentativas de aniquilar a liberdade sindical na Guiné-Bissau. Sobre este

último assunto, as detenções arbitrárias de vários líderes sindicais e as

interferências políticas grosseiras na gestão da UNTG, a maior central

sindical do país, são exemplos paradigmáticos da intolerância e


insensibilidade do regime vigente face ao livre exercício dos direitos e

liberdades fundamentais dos cidadãos.

Minhas senhoras e meus senhores

Em 01 de Fevereiro de 2022, um grupo de homens armados atacaram

criminosamente o Palácio do Governo, numa altura em que o executivo

se encontrava reunido em Conselho de Ministros. De acordo com um

balanço feito pelas autoridades nacionais, esta ação violenta resultou em

11 mortes e vários feridos. A LGDH reafirma o seu apoio moral e

solidariedade aos familiares das vítimas e exige mais uma vez, a

identificação e consequente responsabilização criminal dos morais e

materiais do sucedido.

No entanto, 36 pessoas entre os quais militares e civis foram detidos e

acusados de suposto envolvimento na tentativa de golpe de estado.

volvidos cerca de dois anos de detenções em condições infrahumanas, os

suspeitos ainda não foram julgados, não obstante as autoridades

judiciárias terem ordenado a libertação de um número considerável destes

suspeitos. Aliás, neste momento, todos os prazos legais de prisão

preventiva foram largamente ultrapassados.

A recusa em cumprir as decisões judiciais e consequente manutenção do

regime de detenções, constitui uma afronta ao Estado de direito e uma

violação sem precedentes do principio de separação de poderes. Por isso,

aproveitamos mais uma vez esta oportunidade, para exigir a libertação

imediata destes cidadãos que se encontram sequestrados pelo Estado da

Guiné-Bissau.

No que concerne aos direitos económicos e sociais, a situação da saúde

guineense é deveras preocupante, na medida em que, os sucessivos

governos nunca se dignaram dispensar a atenção adequada e necessária

ao sector, o que contribuiu decisivamente para o agravar dos problemas

relacionados com o acesso e a qualidade do serviço de saúde que é

prestado aos cidadãos. 


O disfuncionamento do nosso sistema de saúde começa desde logo com a

insignificante dotação orçamental afecta a este sector estratégico,

passando pela insuficiência dos recursos humanos em termos qualitativos

e quantitativos, pela degradante situação das infraestruturas e dos

equipamentos devido à falta de manutenção   adequada, pela repartição

desigual dos recursos disponíveis,  venda no mercado farmacêutico

nacional de medicamentos de origem duvidosa, bem como pela ausência

de mecanismos de controle da atuação dos profissionais que intervém no

sector.

Constata-se ainda uma gestão inadequada dos serviços de saúde devido

aos sinais evidentes de clientelismos e corrupção, acompanhada por um

Sistema Nacional de Informação Sanitária deficiente e uma coordenação

insatisfatória das intervenções do conjunto dos parceiros nacionais e

internacionais. 

Em consequência destes e outros problemas do sector, a Guiné-Bissau

regista uma das mais elevadas taxas de mortalidade materna e neonatal na

África subsariana. 

Em relação ao sector da educação, a situação não difere de outros

sectores sociais, o sistema regista degradação e ruina das infraestruturas

sociais, curriculum escolar obsoleto em todos os níveis, falta de rigor e

corrupção mina hipóteses de competitividade, em consequência, milhares

de crianças se encontram fora do sistema de ensino numa clara violação

dos direitos humanos. Aliás, é triste constatar que centenas de aldeias nas

zonas rurais algumas com 3000 mil habitantes ou mais, não dispõem de

uma única infraestruturas escolar do estado numa clara negação do direito

fundamental de acesso à educação ao povo guineense.

Minhas senhoras e meus senhores,

A participação direta e ativa de homens e mulheres na vida política

constituí condição e instrumento fundamental para a consolidação do

sistema democrático, devendo a lei promover a igualdade no exercício

dos direitos cívicos e políticos e proibir a discriminação em função do

género no acesso a cargos políticos e esferas de decisão.


A consagração formal do princípio da igualdade na nossa constituição por

si só, é insuficiente, pois continuamos a registar enormes desigualdades

sociais que prejudicam as mulheres. Dai ser importante e urgente rever a

lei da paridade e adequa-la aos padrões internacionais permitindo maior

democratização do sistema político guineense e consequente aumento do

índice da participação das mulheres nas esferas de tomada de decisão.

Igualmente, apelamos a mobilização de meios financeiros com vista a

implementação da política nacional da igualdade e equidade de género,

enquanto instrumento imprescindível nos esforços de redução das

desigualdades estruturais existentes entre homens e mulheres na

sociedade guineense.

A exploração das crianças, abuso sexual de menor, bem como a

inexistência de um sistema nacional de proteção dos deficientes,

estimulam sistematicamente atos de discriminação destes grupos,

tornando-os ainda mais vulneráveis aos riscos de violações dos seus

direitos e liberdades fundamentais. Por conseguinte, é imperiosa adotar a

lei contra a mendicidade forçada e de proteção integral de menores, bem

como de um regime jurídico de proteção e promoção dos direitos das

pessoas com deficiência incluindo as que vivem com o albinismo.

Minhas senhoras e meus senhores

O projeto coletivo de uma Guiné-Bissau de progresso, da paz, da

democracia, do estado de direito, de igualdade de oportunidades entre

homens e mulheres, sonhado por Amílcar Cabral e combatentes de

liberdade da Pátria, continua a ser traído por alguns guineenses, cujas

prioridades se resumem apenas a satisfação dos interesses pessoais e de

grupos.

Volvidos mais de 50 anos de independência, a Guiné-Bissau continua
a

ocupar as piores posições no ranking do desenvolvimento humano. Os

acessos à água potável, à educação e saúde de qualidade, à energia

elétrica, às infraestruturas, aos recursos económicos que pertencem à

todos, continuam a ser uma utopia.


Em contrapartida, um grupo de cidadãos, na maior parte dos casos

desprovidos de qualquer legitimidade democrática, espoliam os recursos

financeiros, ostentam criminosamente a riqueza, violam os princípios

estruturantes do estado de direito, enfim, mantêm o povo refém numa

gaiola, adiando sistematicamente a sua esperança e o seu direito a uma

vida melhor.

Este quadro sombrio agravou-se perigosamente nos últimos três anos,

após o regime vigente ter iniciado a implementação de uma agenda de

desconstrução e desmantelamento da democracia e do estado de direito,

dando lugar ao absolutismo e autoritarismo.

Em consequência, o país começa a assistir ao desmoronamento das

instituições democráticas, à concentração de poderes numa única pessoa,

as chamadas “ordens superiores” a sobreporem-se à Constituição e à

ordem jurídica do país.

A situação espelhada no presente relatório prova ainda, e os guineenses o

sabem, que o momento é da maior gravidade. Ou recuperamos

colectivamente, um sentido mínimo do Estado de Direito, para enfrentar

os grandes desafios do desenvolvimento, da igualdade de oportunidades

entre homens e mulheres e da realização dos direitos humanos que temos

pela frente; ou continuaremos no caminho atual e em breve atingiremos o

ponto de não retorno na confiscação do Estado por interesses individuais,

de grupos privados e por lógicas abusivas e criminosas, num território

onde a única regra será aquela ditada pela “Ordem Superior” e pela lei do

mais forte.

Não seria justo terminar esta intervenção, sem mencionar o atual

momento político da Guiné-Bissau, caraterizado pela dissolução

inconstitucional do parlamento, assalto ao Supremo Tribunal de Justiça

por homens armados e consequente demissão do seu Presidente,

demissão do governo e criação de um governo de iniciativa presidencial,

intimidações dos profissionais de comunicação social, enfim tentativas de

confinamento da liberdade de manifestação decretada arbitrariamente

pelo Ministério do Interior, como se o país estivesse a viver num Estado

de sitio ou emergência.


Por isso, exortamos firmemente as autoridades nacionais no sentido de

abandonarem estas ações solitárias de ataque aos direitos humanos,

adequando as suas condutas à constituição aos demais leis em vigor na

Guiné-Bissau. Aliás, a lei tem de ser o critério, o fundamento e o limite

de atuação de todas as autoridades nacionais.

É nossa convicção que a consolidação da paz, da democracia e do estado

de direito, por ser um desafio coletivo, requer o concurso de ações

convergentes de todos os seguimentos da sociedade, sem exceção, para

transformar as nossas diferenças em oportunidades e os nossos fracassos

em potencialidades para erguer uma nação fundada nos valores da

dignidade da pessoa humana.

Ao nosso nível, quero deixar bem claro que iremos prosseguir a nossa

luta cívica de promoção e proteção dos direitos humanos na Guiné-

Bissau, não obstante as ameaças e intimidações contra os ativistas dos

direitos humanos. Para o efeito, e face a degradação da situação dos

direitos humanos no país, iremos nos próximos tempos acionar os

mecanismos onusianos de oproteção dos direitos humanos,

nomeadamente, o Relator Especial sobre a liberdade de reunião e

associação pacifica e demais outros.

Para finalizar, gostaria de em nome da Liga, manifestar a nossa eterna

gratidão a Cooperação portuguesa pelos inestimáveis apoios concedidos,

sem os quais não seria possível a produção e consequente apresentação

deste relatório. Os nossos agradecimentos são extensivos A associação

pela Cooperação entre os Povos ACEP liderada pela incansável Fátima e

suas colaboradoras, pelos apoios e acompanhamentos permanentes que

nos têm dado nesta luta incessante e gratificante luta de promoção e

proteção dos direitos humanos na Guiné-Bissau. Permitam-me agradecer

no fundo de coração uma pessoa especial Dr. Pedro Rosa Mendes, um

grande amigo da Guiné-Bissau, que decidiu a título gratuito apoiar a

revisão deste relatório, o nosso muito obrigado Pedro.

Por fim, mas não menos importante, quero do fundo do meu coração

agradecer os ativistas dos direitos humanos, com especial dedicatória


para os presidentes da LGDH nas regiões que de forma incansável e

exemplar defendem os direitos humanos em circunstâncias adversas e

muitas vezes hostis.

Um Bem Haja a Todos!

Seja um Vencedor. Aposta e Ganha

Jogue   Online em   👉  BWinn ers 💰 ? 15.000.000 Fcfa MEGA JACKPOT  💰 !   ⚽  Teste suas habilidades prevendo os resultados de 14 emocionan...