Por: António Nhaga
Director Geral
FONTE: O Democrata
Edição n°553, Ano XI, de 12 de janeiro de 2024]
"Todos os guineenses sabem e estão conscientes que 2024 será mais um ano de mão cheia de nada. Aliás, é já do conhecimento de todos os cidadãos guineenses, desde que o país aderiu ao sistema multipartidário, que deixou de ter projetos de desenvolvimento a curto e a longo prazo.
A política da democracia de “cada um por si, sem missão, nemvalores, nem visão, deixou o país com falta de projetos dedesenvolvimento sustentável. Não há hoje, na Guiné-Bissau, líderes partidários com uma visão cuja ação prioritária se assenteno desenvolvimento do país, independentemente da cor partidária, do governo legal e legitimamente eleito nas urnas.
O país, mesmo com uma maioria parlamentar, sempre viveu anos de enormes indecisões políticas marcadas por polémicasconstitucionais, inconstitucionais e de golpes de Estado que acabam sempre por conduzir à dissolução do Parlamento. A queda de governos de coabitações estéreis deve-se, sempre e em grande parte, à sua narrativa discursiva simbólica sustentada pelaiconicidade política que reina em toda a dimensão política multipartidária nacional.
Em virtude da grande iconicidade política que reina no sistema politico democrático nacional, a nossa economia nunca foi capaz de acompanhar a procura económica internacional para gerar riqueza e manter a procura interna sustentável. Todos os anos, o crescimento do nosso Produto Interno Bruto (PIB), estevesempre em risco. Os líderes dos sucessivos partidos políticos que digiram o país nunca se preocuparam em construir uma resiliência económica nacional para fazer face aos choques externos sobre o consumo interno e incentivar a exportação da castanha de cajú.
O ano de 2024 será mais um ano de incerteza nacional. Mesmo os guineenses com otimismo panglossiano não acreditam no discurso indicial da comunidade internacional sobre o crescimento económico de 4.5 por cento que o país teve em 2023, porquanto a própria inflação permanecera elevadíssima.
Assim, 2024 será um ano de incertezas económicas na Guiné-Bissau. O défice orçamental deverá manter-se em 5,9 por cento do PIB. A dívida pública em 80,3 por cento e o défice orçamental continuará a ser sempre superior ao previsto para o ano em curso. O nosso país é um Estado economicamente frágil que enfrenta, há muitos anos, desafios significativos em matéria de desenvolvimento, em particular, às mudanças constantes da economia mundial.
A agenda da reforma da economia nacional deve integrar, como prioritário, o estabelecimento de um plano ambicioso de consolidação orçamental para apoiar um crescimento económico inclusivo. Fazer um esforço na preservação da sustentabilidade da dívida e implementar as reformas estruturais na governação para fortalecer a capacidade económica da Guiné-Bissau.
Infelizmente, este ano será de mais uma incerteza política na governação do país, não haverá um critério de desempenho para o cumprimento do limite mínimo relativo às receitas fiscais nem o cumprimento dos limites máximos relativos aos salários. Com essa incerteza política de 2024, a Guiné-Bissau continuará a não cumprir, economicamente, os limites mínimos relativos ao saldo primário interno em virtude da redução das receitas das licenças de pesca.
O essencial agora é que a classe política nacional saiba estabelecer uma missão de alfa e ómega que transforme o otimismo panglossiano dos guineenses numa realidade económica sustentável para o desenvolvimento do país. Ou seja, de descobrir como é que o otimismo panglossiano dos guineenses poderá ajudar no estabelecimento de uma missão de valores e da visão democrática para que o ano de 2024 não seja mais um ano de incerteza política democrática na Guiné-Bissau."