FONTE: DEUTSCHE WELLE
Expulsão de meios de comunicação social portugueses levanta preocupações sobre repressão e liberdade de imprensa. "Os políticos recebem os jornalistas com hostilidade", diz bastonário.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos condena "com veemência" a expulsão do país das delegações da RTP África, RDP África e Agência Lusa, classificando a medida como "abrupta, injustificada e de gravidade extrema". Em comunicado, a organização denuncia uma "agressão aberta à liberdade de imprensa" e alerta para o "carácter autoritário" do regime, exigindo a revogação imediata da decisão.
O Governo guineense ordenou a suspensão das emissões e a saída dos jornalistas até terça-feira, sem apresentar justificações. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português repudiou a ação, que considera "altamente censurável", e convocou o embaixador guineense em Lisboa para esclarecimentos.
As direções de informação da Lusa, RTP e RDP reagiram em conjunto, denunciando "um ataque deliberado à liberdade de expressão" e exigindo o restabelecimento das condições para o exercício do jornalismo.
À DW África, o bastonário da Ordem dos Jornalistas Guineenses, Antonio Nhaga, também condena a expulsão das delegações e diz que, na Guiné-Bissau, "relatar factos tornou-se um risco".
DW África: O que poderá estar por trás desta decisão governamental?
António Nhaga (AN): Ainda não sabemos ao certo, o próprio Ministério da Comunicação também não terá conhecimento. Tentei falar com algumas pessoas, mas não conseguiram fornecer informações concretas sobre a situação. Infelizmente, como sabemos, na Guiné-Bissau há sempre esta questão de ameaças, intimidações e risco de prisão, apenas pelo facto de um jornalista relatar factos. Essa é a razão, e é isso que este novo Governo pretende fazer.
DW África: Acha que esta decisão visa restringir as liberdades de expressão, sobretudo de imprensa?
AN: Claro que sim. Na Guiné-Bissau, os políticos recebem os jornalistas com hostilidade, com falsas acusações, e estamos novamente a assistir a falsas acusações contra a RTP e a RDP na Guiné-Bissau. São acusações infundadas, como já estamos habituados, acompanhadas de ameaças de prisão. [Esta expulsão] poderá, sobretudo, pôr em causa as relações entre a Guiné-Bissau e Portugal.
DW África: Acredita que é uma tentativa do atual regime de esconder os problemas que a sociedade enfrenta?
AN: Claro, sem dúvida. É uma forma de esconder os problemas, de impedir que a imprensa se exprima e relate os factos que a sociedade vive neste momento. A Guiné-Bissau atravessa uma fase muito difícil da sua democracia, e o Governo não quer que vejamos. Por isso, há uma hostilidade constante, com acusações falsas.
DW África: Acha que isto não ficará por aqui?
AN: Certamente que não. Como disse, acredito que Portugal também irá reagir, e isto não ficará por aqui. Mas, infelizmente, nós, jornalistas, seremos as vítimas. Não deveríamos ser acusados apenas por relatar factos. Já assistimos a espancamentos de delegados da Lusa e da RTP. E isto não vai parar. Vai continuar. Este novo Governo está no poder há poucas semanas e já começou a tomar estas medidas. Agora, já está a expulsar jornalistas.
DW África: Acredita que haverá uma deterioração nas relações, sobretudo com este novo Governo na Guiné-Bissau?
AN: Sim, acreditamos que haverá uma relação difícil. Será uma relação marcada por ameaças, intimidações e prisões constantes de jornalistas.
DW África: À medida que se aproxima o dia 5 de setembro, apontado como o fim do mandato do Presidente, há uma intenção crescente de silenciar vozes críticas ao regime?
AN: Sim. Essa é a razão. À medida que o fim do mandato se aproxima, o Presidente da República quer assumir a liderança da sua próxima candidatura. Diz que será candidato independente. E, à medida que assume essa candidatura, o país torna-se cada vez menos democrático, com um regime autoritário que silencia as pessoas. Passamos a falar numa única voz. Provavelmente, amanhã, quem disser algo contrário corre o risco de ser intimidado ou preso. E nós, jornalistas, somos as primeiras vítimas. Infelizmente, é essa a realidade. Lamentamos e condenamos esta hostilidade e estas falsas ameaças de prisão contra jornalistas na Guiné-Bissau.