FONTE: DEUTSCHE WELLE
A crise política na Guiné-Bissau ganhou novos contornos com a marcação das eleições gerais para 23 de novembro. Enquanto os partidos leais ao regime aplaudem decisão do PR, a oposição desvaloriza o Decreto Presidencial. O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, marcou para 23 de novembro eleições gerais, presidenciais e legislativas.
A marcação da data das eleições gerais surge numa altura em que o país ainda aguarda pelo pronunciamento da missão da CEDEAO que esteve em Bissau para mediar a crise política e que o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, disse que expulsou por desrespeitar as autoridades nacionais.
Vários juristas e partidos da oposição consideram que o mandato presidencial de Sissoco Embalóterminou no dia 27 de fevereiro, exigindo por isso uma data para a realização das eleições, a reconfiguração do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Mas a data agora fixada, de 23 de novembro deste ano, não gera consenso.
DATA ENTRE APLAUSOS E CRÍTICAS
Para Marciano Silva Barbeiro, vice-coordenador do Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), a ala leal a Sissoco Embaló, a decisão do Presidente da República é certeira.
"Ficamos muito satisfeitos com esta decisão do Presidente da República e o MADEM-G15, enquanto partido, vai trabalhar para poder, de facto, corresponder às expectativas dos seus militantes e do povo da Guiné-Bissau no dia 23 de novembro de 2025", afirmou.
Já António Samba Baldé, coordenador interino da Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), considera que a marcação da data das eleições para novembro não tem nexo.
"Mais uma vez esta decisão reflete aquele método do ex-Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, de fazer sempre fuga para a frente, para antecipar os acontecimentos", comentou.
Samba Baldé afirma ainda que Sissoco Embaló "sabe que a própria CEDEAO está a trabalhar no sentido de haver uma solução consensual, participativa e uma solução da paz e estabilidade", na qual, segundo diz, "Sissoco Embaló não está interessado".
PRESIDENTE DEVE ABRIR PORTAS AO DIÁLOGO EXTERNO
O Presidente da Guiné-Bissau reuniu-se, esta sexta-feira (07.03), no Palácio da República, com um grupo de partidos, quase todos seus apoiantes. As coligações da oposição PAI Terra-Ranka e API- Cabas Garandi declinaram o convite para o encontro.
António Samba Baldé, coordenador interino da PAI-Terra Ranka, justifica a ausência. "Na nossa visão, ele foi Presidente, mas a 27 de fevereiro deixou de o ser. Portanto, não tem prerrogativas nem o direito de nos convocar".
O professor universitário, Cadafi Dias, não acredita que o caminho, agora apontado por Umaro Sissoco Embaló, seja solução para o impasse político na Guiné-Bissau. Para que haja eleições livres, justas e transparentes, Dias defende que o Presidente deve abrir portas ao diálogo externo.
"O Presidente da República deve ceder e permitir que haja um diálogo que envolva a comunidade internacional, a partir do qual teríamos uma nova configuração imparcial no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e na Comissão Nacional de Eleições", justifica.
Cadafi Dias defende que a oposição deve também ceder e permitir que Sissoco Embaló continue em funções, mas sem "poderes capitais", até à realização das eleições em novembro.