domingo, 23 de fevereiro de 2025

OPINIÃO AAS - Desaparecimento do Barnabé Gomes

Não convivi - nem pessoal nem profissionalmente - com o Barnabé Gomes. Mas tudo mudaria naquela manhã do dia 2 de março do ano de 2009. O ataque que começou de madrugada, viria a revelar-se numa tragédia, das maiores e mais tristes da História da Guiné-Bissau.

O CONTEXTO


Refiro-me ao ataque à residência do Presidente da República, João Bernardo ‘Nino’ Vieira, que culminou com o seu assassinato - ainda por resolver!


Barnabé Gomes, era assessor de imprensa do PR e estava na residência do Chefe de Estado nessa noite, assim como dois advogados. Eu morava em frente à residência do ‘Nino’ Vieira.


No dia anterior, o CEMGFA Tagme Na Waie tinha morrido numa explosão que abalou as estruturas do Estado-Maior. E assim que soube, tomei precauções: pus a carregar tudo - telemóveis, câmara fotográfica, gravador de voz, enfim.


A Sra. minha Mãe chegaria a Bissau nessa noite e pedi à minha irmã que não a trouxesse para casa - eu já adivinhava o que aí vinha. Foram para casa de parentes, na Rua 10. Fiquei com dois sobrinhos menores, gémeos, tentando fazer de conta que tudo estava bem.


É preciso notar que a residência do Presidente estava já sob vigilância desde o final da tarde do dia anterior e - até certo ponto - sob cerco. Discretamente, mas estava.


Chegou a noite, que foi passando devagar, quase a arrastar-se - uma espécie de terapia do medo apoderou-se dos citadinos de Bissau e mais ainda do bairro Chão de Papel… até que, com a partida do avião da TAP para Lisboa, estalou a bernarda.


Um disparo de RPG 7 (bazuca) contra a casa do Presidente interrompeu ainda mais a já pacata noite de Bissau, dando início às hostilidades que se revelariam trágicas. Agora, tiros de AK 47 e de pistolas ecoavam na escuridão total. A residência foi posteriormente tomada, depois de grande resistência.


Acalmei os meus sobrinhos, apaguei as luzes e descemos até ao rés-do-chão. Meti-os na despensa que fica debaixo das escadas, um local ‘seguro’, pensei, e acendi uma lanterna. 


Por volta das 6 e meia da manhã, desci do 1º andar e fui à despensa - os meus sobrinhos dormiam inocentemente, talvez abalados, mas provavelmente transtornados.


Abri a porta para a rua e tinha um militar de costas para mim, completamente sereno - àquela hora tudo tinha acabado, à parte o estrago causado, que era visível da rua e não era pouco. Carros completamente atravessados por projécteis e estilhaços de granadas.


Contudo, o estrago maior aconteceu dentro da residência do Presidente da República. Prostrado numa poça de sangue, estava o cadáver mutilado do Presidente, ‘Nino’ Vieira.


BARNABÉ GOMES


Por volta das 9/10 da manhã, a tropa abre o portão da garagem e mandam sair quatro pessoas: os advogados ‘Vavá’ e Armindo Sequeira; o Barnabé Gomes e o Adolfo.


Eu dirigi-me a eles e vendo a situação em que estava o Barnabé - sem qualquer assistência - fui a correr buscar o meu automóvel para o levar ao hospital. Ele estava pálido, a pele acinzentada, perdera muito sangue desde que foi atingido.


Levei o Adolfo para uma residência no Bairro D'Ajuda e ainda regressei ao hospital para devolver ao Bernabé os óculos que inadvertidamente deixara ficar no meu carro.


Passado um tempo - acho que estivera em tratamento fora do país - voltei a ver o Barnabé e lembrei-lhe do sucedido. Os nossos olhos encheram-se de lágrimas e foi um esforço para não desaguarem. Vi-o mais umas duas, três vezes em encontros de circunstância. Parecia curado mas o trauma permaneceu.


Hoje, o Barnabé não está mais entre nós. Que a família encontre forças para seguir em frente. E que a terra lhe seja leve. AAS

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