As recentes eleições autárquicas trouxeram mudanças significativas no panorama político cabo-verdiano. O PAICV, principal partido da oposição, consolidou-se como a maior força autárquica, conquistando 15 das 22 câmaras municipais, um feito histórico que reflete uma reorganização das dinâmicas políticas no país. Por outro lado, o MpD, partido no poder, enfrentou sua maior derrota, com queda expressiva no número de autarquias controladas.
O PAICV com a vitória, o partido enfrenta o desafio de gerir as expectativas elevadas e evitar ambições desmedidas. Francisco Carvalho, reeleito na Praia, desponta como possível liderança futura, mas o partido precisa equilibrar a euforia com uma estratégia que una seus quadros e mantenha a governabilidade nas câmaras conquistadas.
O MpD, a derrota acendeu debates internos e pressões por mudanças na liderança. Ulisses Correia e Silva reconheceu o resultado negativo, mas enfrenta críticas e apelos por uma renovação estrutural. Este é um momento de introspecção para redefinir rumos antes das legislativas de 2026.
A alta taxa de abstenção, que chegou a 50%, evidencia uma insatisfação geral com o sistema político-partidário. Jovens e cidadãos em geral mostram descrença nas práticas políticas, levantando questionamentos sobre corrupção, promessas não cumpridas e o distanciamento das lideranças das reais necessidades do povo.
O resultado das eleições autárquicas também lança sinais para as próximas eleições legislativas, previstas para 2026. Historicamente, os desempenhos em pleitos locais influenciam as disputas nacionais, ainda que de forma indireta. O PAICV está em ascensão, enquanto o MpD luta para recuperar sua base e reestruturar sua liderança.
Além disso, partidos menores e movimentos independentes continuam sem um papel significativo, reforçando a polarização entre as duas maiores forças políticas. No entanto, o desgaste dos grandes partidos pode abrir espaço para novas vozes, caso consigam articular propostas sólidas e conectadas às necessidades populares.
A sociedade cabo-verdiana enfrenta um momento de reflexão. A elevada abstenção mostra que parte significativa da população não se sente representada. Isso exige um esforço coletivo para reaproximar o cidadão da política, promovendo maior transparência, combate à corrupção e incentivo à participação ativa.
Cabo Verde atravessa um momento político desafiador, mas também cheio de oportunidades. A consolidação de lideranças responsáveis, o fortalecimento das instituições democráticas e a promoção de políticas públicas eficazes podem transformar as dificuldades em um trampolim para o progresso.
Os próximos passos de partidos, líderes e eleitores definirão não apenas o cenário político imediato, mas também o futuro de Cabo Verde como uma democracia sólida e representativa.
Renovação e Sustentabilidade Política: Tanto o PAICV quanto o MpD enfrentam o desafio de se reinventarem. Para o PAICV, é crucial evitar divisões internas enquanto consolidam a liderança conquistada. No MpD, a necessidade de renovação vai além das lideranças: há uma demanda clara por mudanças estruturais e uma nova abordagem política que dialogue com a realidade social.
Abstenção e Representatividade: A taxa de abstenção acima de 49% é alarmante. Ela não apenas evidencia descontentamento, mas também questiona a legitimidade das estruturas democráticas. Este é um momento para os partidos buscarem a reconexão com a base eleitoral, promovendo ações concretas e menos retóricas.
Corrupção e Confiança Pública: A percepção de corrupção e práticas político-partidárias imorais foi amplamente debatida no contexto das eleições. Este é um ponto central que precisa ser enfrentado com transparência e punição exemplar para infratores. Apenas com reformas éticas será possível restaurar a confiança pública.
Juventude e Migração: Muitos jovens cabo-verdianos sentem-se desiludidos e buscam alternativas fora do país. A criação de oportunidades para a juventude é fundamental para evitar a fuga de talentos e assegurar a sustentabilidade econômica e social.
Economia e Infraestrutura: Os debates eleitorais mostraram que questões econômicas, como desemprego e infraestrutura precária, continuam no topo das preocupações da população. Qualquer projeto político sério precisa priorizar investimentos em áreas que melhorem a qualidade de vida.
O atual contexto em Cabo Verde representa uma encruzilhada política. As próximas ações, seja na reestruturação partidária, seja na implementação de políticas inclusivas, terão impacto direto no futuro democrático do país. Este é o momento de lideranças visionárias assumirem responsabilidades e guiarem o país com ética e compromisso social.
Além das questões domésticas, Cabo Verde enfrenta desafios que dialogam com dinâmicas globais. Como um país insular e em desenvolvimento, é afetado por mudanças climáticas, instabilidades econômicas globais e migração internacional. A política interna precisa estar conectada a esses desafios externos, garantindo que o país esteja preparado para:
Mudanças Climáticas: A vulnerabilidade de Cabo Verde a eventos climáticos extremos exige políticas públicas mais robustas e sustentáveis, além de maior articulação internacional para acessar financiamentos e tecnologias verdes.
Integração Regional: No contexto da CEDEAO, Cabo Verde pode ampliar sua presença, especialmente no comércio e cooperação multilateral. Para isso, a estabilidade política interna é essencial.
Gestão da Diáspora: A diáspora cabo-verdiana desempenha um papel crucial na economia por meio de remessas, mas também na política e cultura. Políticas que envolvam a diáspora em debates e decisões podem fortalecer os laços entre o país e sua comunidade global.
Neste momento, é essencial que todos os atores, governantes, oposição, sociedade civil e cidadãos, assumam a responsabilidade de trabalhar pelo bem comum.
O futuro de Cabo Verde depende do engajamento coletivo e da superação de divisões partidárias em nome de um propósito maior: construir um país mais justo, inclusivo e resiliente.