FONTE: DEUTSCHE WELLE
Opositores políticos guineenses denunciam opressão das autoridades cada vez que tentam realizar manifestações pacíficas nas ruas. Cidadãos debatem como encarar o regime do Presidente Umaro Sissoco Embaló.
Protestar nas ruas é um problema na Guiné-Bissau há muitos anos. As autoridades usam com frequência meios violentos para proibir ou interromper manifestações das organizações da sociedade civil e dos partidos políticos.
Desde 2020, diversas figuras públicas e cidadãos comuns foram detidos ou espancados por se manifestarem ou tentarem realizar manifestações. Perante essa realidade, há quem questione se os protestos de rua são a solução para a crise política guineense.
"Eu acho que a marcha nunca será solução para este problema. Acho que o diálogo entre os atores políticos é a melhor solução", defendeu uma cidadã ouvida pela DW nas ruas de Bissau.
Outro cidadão discorda: diz que a manifestação é o "único caminho" para o país sair da situação em que se encontra. "Mas é preciso respeitar as regras, porque você não pode realizar a manifestação para vandalizar o que nos pertence a todos", alerta.
Um funcionário público realçou que "a manifestação continua a ser um mecanismo importantíssimo para resolver os problemas do povo. Mas o povo precisa de ter a coragem e a determinação para sair à rua em massa".
"A CONSTITUÇÃO ESTÁ SUSPENSA"
Em janeiro deste ano, o Ministério do Interior proibiu aglomerações de pessoas em qualquer tipo de evento com contornos de manifestação política. A medida foi criticada pelas organizações de defesa dos direitos humanos, mas ainda não foi revogada.
Isabel Almeida, coordenadora da organização das mulheres guineenses MIGUILAN, refere que a manifestação pode ser uma solução para a crise política guineense, mas lembra que a realidade política no país é muito difícil.
"A Constituição [da Guiné-Bissau] está suspensa e feita tábua rasa. Começa aí a dificuldade [de perceber] em que regime político nós estamos a viver", salienta.
Na semana passada, Wasna Papai Danfa, de 65 anos, antigo ministro da Energia e membro da coligação Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI) - Terra Ranka denunciou ter sido "brutalmente espancado" por forças da ordem, juntamente com vários membros da sua formação política, após serem detidos na sequência do impedimento de uma atividade política.
Para Victorino Indeque, coordenador da Rede dos Defensores dos Direitos Humanos (RDDH-GB), é preciso adotar outra estratégia para enfrentar o regime. "Devemos também pensar em canais diplomáticos, para fazer pressão", sugere.
"Há um regime instalado que já teve vários governos com o mesmo modus operandi, que é não permitir que as pessoas exteriorizem os seus sentimentos e inquietações através de manifestações", comenta Indeque.