FONTE: DEUTSCHE WELLE
O Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) quer uma investigação independente e imparcial para apurar responsabilidades sobre a aeronave apreendida com quase três toneladas de cocaína na Guiné-Bissau.
A 7 de setembro, a polícia guineense apreendeu uma aeronave no aeroporto internacional Osvaldo Vieira de Bissau "com uma grande quantidade" de droga e deteve os cinco ocupantes do aparelho.
As mais de 2,6 toneladas de cocaína eram provenientes da Venezuela, segundo a polícia. A operação, denominada "LANDING", contou com a colaboração da agência federal norte-americana de combate à droga (Drug Enforcement Administration - DEA) e o MAOC (N) - Centro de Análise e Operações Marítimas - Narcóticos.
À DW, o Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) diz que nota uma forte atividade de tráfico de drogas no território guineense. Em entrevista exclusiva, a responsável da UNODC para a Guiné-Bissau, Ana Cristina Andrade, reconhece ainda que existem desafios significativos no combate ao tráfico de droga no país.
DW África: Como a UNODC vê a evolução do tráfico de droga na Guiné-Bissau?
Ana Cristina Andrade (ACA): O que nós temos é notado, com base em evidências, é um aumento de apreensões de drogas, sendo este último caso paradigmático que é um indicador de uma forte circulação em termos de tráfico de drogas. Neste primeiro semestre deste ano, tem havido apreensões sucessivas de drogas aqui na Guiné-Bissau, também apreensões em outros países de drogas, com o envolvimento da Guiné-Bissau. Portanto, isto é um indicador de que é preciso intensificar todo o trabalho, seja a nível de investigação, seja também de prevenção e cooperação regional e internacional. E estamos a trabalhar com as autoridades nesta abordagem.
DW África: A UNODC nota o envolvimento de figuras do Estado no tráfico de drogas na Guiné-Bissau?
ACA: A UNODC reconhece que existem desafios significativos na luta contra o tráfico de drogas na Guiné-Bissau, assim como existem a nível regional. Nós temos registado preocupações sobre a possível implicação de figuras de Estado e de políticos neste crime. Para a UNODC, se estes indícios forem confirmados ou se existirem de facto, isso torna-se ainda um problema maior, porque é um motivo de preocupação que pode complicar ainda mais os esforços para combater este crime.
DW África: Num Estado frágil como a Guiné-Bissau, o que se espera das investigações em curso sobre o avião que foi apreendido no país com drogas?
ACA: Este problema de tráfico de drogas é muito sério, e nós enfatizamos sempre na nossa abordagem a importância que as investigações sejam imparciais, abrangentes e que possam identificar e responsabilizar as pessoas envolvidas. Nós acreditamos que a transparência e integridade nas investigações são fundamentais para dissipar a existência ou não desses indícios e restaurar a confiança da população nas instituições. Isto, para nós, é muito importante, tal como fortalecer todo o sistema da justiça penal.
DW África: O que deve fazer o Estado da Guiné-Bissau para restaurar a confiança no combate ao tráfico de drogas?
ACA: É crucial que a Guiné-Bissau continue a materializar reformas abrangentes que abordem as vulnerabilidades existentes. Isto é muito importante: ver aquilo que existe em termos de vulnerabilidade e promover r reforçar um ambiente de responsabilização, de transparência. A UNODC está disponível para continuar a apoiar as autoridades nacionais e ser um facilitador fundamental desse processo, oferecendo apoio técnico e estratégico.