quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Centenário de Amílcar Cabral: "Defender a terra é defender o homem"

FONTE: RFI

O segundo dia do simpósio internacional 'Amílcar Cabral - um património nacional e universal' começou com uma apresentação do docente senegalês da Universidade Cheikh Anta Diop, François Joseph Cabral, que discursou sobre a visão de Cabral no que diz respeito ao desenvolvimento económico. 


Enquanto líder da luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde e também engenheiro agrónomo, Amílcar Cabral reflectiu sobre economia, ecologia e sobre a relação dos seres humanos com o ambiente. Embora este debate moderno sobre as alterações climáticas, tal como conhecemos hoje, não estivesse plenamente desenvolvido na altura.


A política agrícola de Amílcar Cabral é um dos aspectos centrais do pensamento e da luta de libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Como engenheiro agrónomo de formação, Amílcar Cabral viu na agricultura um elemento fundamental não apenas para o desenvolvimento económico, mas também para a emancipação política e social.


O antigo ministro do Desenvolvimento Rural e Pescas, João Pereira Silva, abordou a temática 'Da agronomia à revolução africana', na qual recordou o facto de "Amílcar Cabral ter percebido muito cedo que para 'defender a terra é preciso retirá-la das mãos dos colonialistas'. A primeira terra que Cabral defendeu foi a sua terra, Cabo Verde, comprometendo-se a enfrentar a seca e, consequentemente, acabar com a fome".


Como dizia Amílcar Cabral, "defender a terra é defender o homem". Estas foram as palavras que escreveu no relatório final do curso de engenheiro agrónomo, intitulado "O problema da erosão do solo. Contribuição para o seu estudo na região de Cuba (Alentejo)", datado de 1951.


Os princípios de Amílcar Cabral em torno da economia e da natureza revelam uma preocupação quanto às questões ecológicas, da sustentabilidade e da exploração ambiental por sistemas coloniais. Na sua intervenção, o investigador do Centro de Estudos Interdisciplinadres - CEIS20 - da Universidade de Coimbra, Julião Soares Sousa, analisou as contribuições de Amílcar Cabral e a crise ecológica actual. "Entre 1949 e 1959, Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo, publicou 59 artigos científicos. Na maioria, aborda a questão da erosão dos solos, das queimadas ou da dificuldade em modernizar a agricultura", começou por recordar o investigador.


Amílcar Cabral promoveu a educação, a agricultura e a auto-suficiência como pilares para a reconstrução dos países pós-coloniais. Amílcar Cabral mostrou-se sempre preocupado com a questão da seca e com o impacto da falta de chuva na economia do país. Uma problemática ainda actual em Cabo Verde. Julião Soares Sousa reforça, ainda, a ideia de que "as alterações climáticas têm impacto na agricultura, pescas, saúde pública e na subida do nível do mar com a erosão costeira". "Amílcar Cabral ensinou-nos que qualquer acção humana tem impacto directo sobre o solo, o ecossistema e a protecção do meio ambiente", acrescentou.


'Cabral e o desenvolvimento sócio económico de África' foi a temática apresentada pelo académico guineense da Universidade Colinas de Boé, Santos Fernando. "Amílcar Cabral acreditava que o povo deveria tomar conta do seu próprio sustento, uma vez que o processo colonial mudou o processo agrícola da Guiné-Bissau", pelo que Amílcar Cabral tentará recuperar as ligações entre o solo, meio ambiente e o homem ao longo da vida.


"A submissão a longo de 17 anos, somando o trauma da fome e da seca, levaram Amílcar Cabral a prosseguir estudos em agronomia para libertar e implementar novas políticas agrícolas. No entanto, o país permanece refém de uma monocultura", acrescentou o analista investigador Santos Fernando. 


O académico da Universidade de Cabo Verde, Arlindo Rodrigues, expôs a questão da "defesa da terra e da agricultura", recordando que "todo o processo capitalista é um trabalho roubado não só ao homem, mas também ao solo. A terra e a capacidade de trabalho estiveram nas mãos dos colonizadores, impedindo que o país se desenvolvesse livremente. Conquistar a independência permitiu desenvolver livremente a terra. Recuperar a terra foi parte da teoria revolucionária de Cabral", concluiu Arlindo Rodrigues. 


O secretário-geral da ONU dirigiu uma mensagem de vídeo para a abertura do Simpósio internacional nesta segunda-feira, 9 de Setembro, um evento que decorre até esta quinta-feira na Cidade da Praia. António Guterres salientou o prestígio universal do ideólogo das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde cujo centenário de nascimento se assinala na quinta-feira.

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Decorre desde segunda-feira, 9 de Setembro, até dia 12 de Setembro no Centro de Convenções da Universidade de Cabo Verde, na Cidade da Praia, um simpósio internacional sobre Amílcar Cabral e na Guiné-Bissau, no INEP, Instituto nacional de estudos e pesquisa, sob a égide da Fundação Amílcar Cabral.


Amílcar Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na Guiné-Bissau, e foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, Guiné.

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