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Fernando Delfim da Silva, antigo chefe da diplomacia e actual conselheiro político do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, qualificou de "atrevimento" intolerável as declarações do Primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, que em entrevista concedida à agência Lusa este fim-de-semana, considerou que a Guiné-Bissau “passou de golpes de Estado para golpes presidenciais”
Delfim da Silva diz que se não fosse pela postura republicana de Sissoco Embaló, a Guiné-Bissau já teria conhecido um golpe de Estado desde que este chegou à presidência do país, em 2020.
O conselheiro de Embaló defende que pela primeira vez, nos últimos 30 anos, a Guiné-Bissau tem um Presidente que se posicionou do lado da defesa da Constituição e da Ordem democrática.
Fernando Delfim da Silva lamenta que alguns timorenses estejam a colocar em causa a amizade com a Guiné-Bissau, país que "serviu de exemplo" para a luta do povo maubere.
"Vendo bem as coisas, o exemplo da Guiné-Bissau realmente foi muito mais do que apenas o símbolo de motivação para os combatentes timorenses. Nos momentos muito difíceis para Timor-Leste, vieram jovens timorenses à Guiné-Bissau, vieram aprender como se faz a guerra. Eles foram treinados no nosso centro de instrução militar na localidade de Cumeré. Enfim, é todo esse passado de amizade e de respeito que alguns timorenses estão agora a tentar manchar por causa desse seu atrevimento de querer intrometer-se nos assuntos internos da Guiné-Bissau, de quererem dar-nos lições. Lições de Mari Alkatiri, de Xanana Gusmão, não. Não as vamos tolerar", disse Fernando Delfim da Silva reagindo às declarações de Xanana Gusmão.
O chefe do governo timorense, recorde-se, criticou a situação vigente na Guiné-Bissau, por ocasião de uma entrevista concedida no fim-de-semana à Lusa a propósito dos 25 anos do referendo que levou à independência de Timor-Leste, que se assinalam em 30 de Agosto. Questionado sobre a Guiné-Bissau, país com o qual Timor-Leste tem elos fortes, Xanana Gusmão referiu que a situação que se regista nestes últimos dez anos naquele país "é uma ameaça real à democracia".
Relativamente a Mari Alkatiri, também mencionado por Delfim da Silva, as críticas do conselheiro presidencial surgem depois de o ex-primeiro-ministro e secretário-geral Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), ter recentemente considerado que a Guiné-Bissau não tem condições de acolher, em 2025, a cimeira e a presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), dado que a seu ver "a força que actua na Guiné-Bissau (...) é a droga". Declarações de "um ingrato" do ponto de vista de Delfim da Silva.
Neste sentido, o conselheiro do Presidente guineense sublinhou que o seu país já organizou "com êxito" as cimeiras de líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA) e que, por conseguinte, tem todas as condições para acolher a da CPLP.
"O Presidente Umaro Sissoco Embaló nunca brigou para trazer para a Guiné-Bissau a presidência da CPLP. Esteve sempre disponível para ceder e permitir que um outro país irmão se passasse para a frente de acordo com as suas próprias conveniências", argumentou ainda Delfim da Silva relativamente à perspectiva de a Guiné-Bissau passar a assegurar a presidência rotativa da CPLP em 2025.
