FONTE: FAMA SHOW
Um relato da crua e dramática realidade na Guiné-Bissau hoje:
Esta quarta-feira, 14 de agosto, Igor Regalla escreveu um texto que foi descrito pelos seguidores como “arrepiante”. O ator falou sobre o que assistiu no sítio que o viu nascer, em Bissau, capital da Guiné-Bissau, após a namorada do amigo ter sido atropelada.
“É quase surreal que se viva neste país e que se ouça tanto falar sobre desenvolvimento e sobre o futuro e se fale tão pouco sobre um dos principais, se não o principal problema de Bissau. A saúde. Já desconfiava, este sábado passei a ter a certeza… A namorada de um amigo foi atropelada por um táxi que fugiu, praticamente à nossa frente. O Edy, namorado da Ju (que foi atropelada) foi a primeira pessoa a chegar ao local e eu peguei no carro automaticamente e levámo-la para o Hospital Nacional Simão Mendes (hospital onde eu nasci e onde só voltei a entrar este sábado)”, começou por escrever.
“Não vos consigo descrever o quão errado está tudo o que testemunhei naquela noite mas por outro lado: ou era assim ou a Ju não tinha ajuda. Deparámo-nos com um hospital num cenário de escassez total. Tivemos que sair umas 10 vezes do hospital para ir a farmácias comprar tudo. E quando vos digo tudo, é mesmo tudo. Desde luvas para o médico e a enfermeira poderem cozer a perna da Ju que sofreu o impacto, às compressas, algodão… De ressalvar que às tantas dei por mim a fazer o trabalho de um auxiliar“, acrescentou.
“Estou com um nó no estômago“
Mas não parou por aqui. Igor Regalla contou ainda que ele e dois amigos tiveram de “ajudar com as luzes dos telemóveis" para que o médico conseguisse ver o que estava a fazer. “Tivemos que ser nós a levantar e a transportar a Ju de uma ponta à outra do hospital para ela poder fazer o raio-X à perna por falta de gente à hora em questão. Quando percebemos que a perna estava partida e que tinha que ser submetida a cirurgia, uma vez que o hospital não tinha condições para proceder à mesma, a solução mais rápida foi levar a Ju para Ziguinchor, no Senegal. Um pé partido… No principal hospital de Bissau… De ressalvar também que se não tivéssemos dinheiro para ir comprar as luvas, sequer, a Ju ia ficar ali posta de lado até serem os acompanhantes a arranjar uma solução.”
“O hospital, em certos lugares, parece aquilo a que nós, que crescemos num ‘país de primeiro mundo’ rapidamente categorizamos com um cenário de guerra. Custa-me que se ouça falar de tanta coisa e de tanto desenvolvimento e tão pouco daquilo que no fundo faz com que ninguém se sinta seguro cá. Estou com um nó no estômago desde sábado. Força e fé a todo o guineense, que é o que nós precisamos”, rematou.