Exmo. Senhor Braima Camará
Coordenador Nacional do MADEM- G15
Bissau
Senhor Coordenador Nacional e estimado irmão.
É com profundo sentido de responsabilidade patriótica e política que solicito seu consentimento, para que esta minha mensagem e declaração sobre o meu posicionamento político e partidário, dirigida a si e ao Conselho Nacional, seja divulgada no decurso dos trabalhos da mesma. Por razões de saúde (acabei de fazer uma intervenção cirúrgica a coluna lombar), não posso estar presente nas reuniões dos órgãos, para melhor expor e defender as minhas convicções, sobre a atual encruzilhada em que a “nossa terra, terra dos nossos avós se encontra”.
Senhor Coordenador Nacional e Prezados Membros do Conselho Nacional. Julgo que sempre me pautei por princípios de lealdade intelectual, transparência, cordialidade, fraternidade e frontalidade, para com todos os militantes e demais companheiros da Direção Superior do MADEM – G15, bem como com a nossa Bancada Parlamentar.
Antes de mais quero reafirmar que tenho muita honra de pertencer aos órgãos do MADEM - G15, sob a sábia e excessivamente cuidadosa liderança, do seu Coordenador Nacional, na procura de consensos alargados.
Fiz a minha opção em ser militante do MADEM – G15, pela confiança no patriotismo e cultura democrática da maioria dos seus militantes, em particular na pessoa do seu Coordenador Nacional, que sempre lutou na procura de soluções mais consensuais, para garantir a coesão dos guineenses, sem distinção de classe, género, etnia e religião e pela liberdade do homem guineense.
Fiz ainda a minha opção em ser militante do MADEM – G15, porque nos debates internos, senti que muitos dirigentes queriam aprofundar a CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO DE DIREITO DEMOCRATICO e PLURALISTA, base indispensável para tirar o nosso belo país da situação de subdesenvolvimento em que se encontra, onde a “Hora Tchiga” para que os mais vulneráveis da nossa terra, façam ouvir as suas vozes e aspirações e onde os governantes aceitem, por força da lei, ouvir e interpretar aquelasaspirações.
Senhor Coordenador Nacional e Prezados Membros do Conselho Nacional.
Permitam-me fazer a minha auto-critica: Desde 2017, que fiquei convencido que no plano político, em matéria de interpretação da Constituição, nos procedimentos administrativos e técnicos da governação, a minha visão era muito diferente do Senhor Umaro Sissoko Embalo, então PrimeiroMinistro. Por isso recusei tomar parte nas primárias e na primeira volta das eleições presidenciais de 2019.
Naquela ocasião, o Senhor Coordenador Nacional criticou me duramente por ter assumido essa postura. Na segunda volta, após persuasão política de vários dirigentes do MADEM – G15, dos apelos dos anciões das Regiões de Bafatá e Gabu e especialmente as mulheres de Bafatá, decidi reconsiderar e submeter-me aos apelos, dos que sempre votaram em mim desde 1994.
Eu sou filho do “Fula-Dú” e não podia manter me indiferente aos apelos dos meus irmãos e irmãs, para ajudar a potenciar os votos do candidato do MADEM-G15, com a minha presença e capital político. Foi assim que decidi participar, com afinco e lealdade, ativamente para o sucesso dos resultados alcançados pelo candidato do MADEM-G15, na segunda volta, e muitas testemunhas estão nesta sala.
Mas hoje, tendo em conta o enfraquecimento e a progressiva destruição das nossas instituições democráticas (Governo, ANP, Tribunais, Partidos Políticos, Imprensa livre, etc.), conjugado com o empobrecimento progressivo da população, durante estes últimos 5 anos, concluo que não devia ter cedido aos apelos dos meus irmãos e irmãs.
Por isso peço desculpas aos guineenses pela minha participação ativa na eleição do atual Presidente da República.
Permitam-me fazer críticas aos dirigentes do MADEM- G!5: A minha coerência e convicção, recomendaram-me sair do Governo chefiado pelo Eng. Nuno Nabian, porque tudo quanto o MADEM - G15 prometeu na campanha eleitoral das legislativas e acessoriamente nas presidenciais de 2019, estava sendo colocado em causa, sobretudo devido a intervenção sistemática do Presidente da República, nos sucessivos Conselhos de Ministros, ditando “ordens avulsas, mal estudadas e tecnicamente erradas”.
Todavia devo salientar que essas “ordens avulsas, mal estudadas e tecnicamente erradas”. eram servilmente assumidas pelos ministros do MADEM - G15 e pelos dirigentes do MADEM -G15 enquanto Conselheiros da Presidência.
A generalidade dos altos dirigentes do MADEM-G15, pouco ou nada se importavam com os meus insistidos comentários em pleno Conselho de Ministros, muitos diziam só “Sim, Senhor Presidente”, porque tinham medo de perder o “COURO” ou porque tinham outros fins inconfessados dentro do MADEM G15.
Pedi a minha demissão do governo, em 5 de Novembro de 2020, porque a visão do programa do MADEM -G15, sufragada e aprovada pelo Conselho de Ministros e pela ANP, sobre reformas e medidas de política económica, visando a transformação estrutural da nossa economia, era no essencial diferente da visão do Presidente da República e dos seus Conselheiros, em termos estratégicos, táticos e técnicos.
Todas as iniciativas do Governo, plasmadas no Programa de Governo, na Estratégia para o Desenvolvimento Económico, Emprego e Fomento Industrial – “Hora Tchiga”, no Plano Nacional de Desenvolvimento (PND- 2020-23), nos documentos estratégicos da Reforma da Função Pública, da reforma da educação, dos programas para alavancar a agricultura, todos aprovados pela ANP, foram sucessivamente colocados na gaveta, porque haveria “outros financiadores e outras alternativas” de desenvolvimento da nossa Terra.
Infelizmente, até hoje estamos à espera dos grandes financiamentos que iriam fazer o “Terra na Bua”.
Permitam-me fazer críticas ao Senhor Coordenador Nacional do MADEM- G!5. O Coordenador Nacional do MADEM - G15, sempre que eu lhe prevenia que o caminho que a governação estava progredindo iria contribuir para a degradação das nossas bases eleitorais. Ele dizia, sofre porque vamos conseguir ultrapassar esta fase! “Temos de gerir a situação”!! Eu ironicamente respondia, espero que tu e o Nuno Nabian não terminem a serem geridos pelo Presidente da República.
Lamento muito dizer, mas o que estamos a viver hoje, é fruto de um erro estratégico do Senhor Coordenador Nacional em ter adiado uma “luta interna no MADEM G15 que inevitavelmente estava anunciada”.
Senhor Coordenador Nacional e Prezados Membros do Conselho Nacional.
Os sucessivos governos em que o MADEM-G15 tem participado não conseguiram realizar o que de facto preocupam os guineenses, isto é:
- Mais auto-emprego e maiores rendimentos para os jovens e as mulheres,
- Mais escolaridade técnica para os trabalhadores guineenses,
- Reformar e Melhorar a qualidade de prestação dos serviços da função pública, para
assegurar maior produtividade e maiores salários,
- Maior produtividade e rendimentos agrícolas,
- Melhores infra-estruturas nos sectores da saúde, educação, justiça, administração
pública, administração interna,
- Modernas infra-estruturas de vocação económica para facilitar o aumento da
produção agrícola e dos rendimentos no campo (estradas no interior do país, energia,
transportes, etc.).
Por que razão fomos incapazes de cumprir com os nossos objetivos programáticos, que se traduzem simplesmente: em maior liberdade do cidadão, em maior e mais democracia participativa, em mais escolas e centros de saúde, em mais estradas e pistas rurais, em maiores rendimentos para os chefes de família e evidentemente menor sofrimento das nossas populações mais vulneráveis.
Nas legislativas de 2023, apesar de termos crescido em números de deputados, fomos altamente penalizados pela falta de cumprimento dos anseios e preocupações do nosso eleitorado. Não tendo conseguido resolver durante a governação os anseios e preocupações dos guineenses, facilitamos a vitoria dos nossos adversários.
E como explicar as nossas bases eleitorais a razão do nosso insucesso governativo? No meu ponto de vista, a principal razão do nosso insucesso governativo, foi e é a falta de respeito pelos ditames da nossa Constituição, agravado pelo disfuncionamento na interdependência dos principais órgãos do Estado, que ocorre devido a incessante intervenção do Presidente da República tendente a sub-alternar inconstitucionalmente os outros órgãos de Estado de direito (Governo, ANP, Tribunais e agora os Partidos políticos).
Se eu tivesse declarado isto nas legislativas de 2023 poucos militantes do MADEM G15 iriam compreender-me e eu seria acusado de contribuir para a vitória dos nossos adversários políticos.
Ter uma “diplomacia agressiva”, sem que a “barriga do povo esteja cheia”, sem reparação das ruas ou estradas principais das Regiões, não mobiliza um só bairro ou tabanca, mormente quando o respeito pelos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pelo pluralismo das ideias vai esmorecendo.
Senhor Coordenador Nacional e Prezados Membros do Conselho Nacional.
Enquanto Deputado na última ANP, constatei que alguns colegas estavam a organizar mais um disfuncionamento dos órgãos do Estado, mais uma CRISE. Os meus colegas da Bancada Parlamentar são testemunhas quanto eu opus-me a mais uma “manobraantidemocrática”, para derrubar o Governo do PAI-Terra Ranka, eleito e muito menos a ilegal dissolução do Parlamento.
Havia uma cumplicidade inequívoca de alguns Deputados com altos dirigentes do MADEM G15, prestando serviço na Presidência da República, facto que pude constatare manifestar o meu desacordo nas reuniões da nossa Bancada na sede do MADEM G15, com alguns Vice Coordenadores, durante a ausência do Coordenador Nacional.
Os que hoje dizem que existe desrespeito das regras de democracia interna no MADEM G15, foram os primeiros que trabalharam e conspiraram para facilitar a tarefa do Presidente da República em desrespeitar a nossa Constituição e a instalar a decomposição do edifício democrático pluralista assente nos partidos políticos, cuja agenda é exclusivamente a manutenção no poder.
A si e a todos os colegas do CN desejo que consigam tomar decisões consentâneas que a situação exige, temos de reforçar a nossa coesão interna no MADEM G15 e com convicção e patriotismo, levar por diante o interesse coletivo da nossa Pequena, mas Grande Nação, que é a de romper com o ciclo do subdesenvolvimento material e espiritual, respeitando as regras democráticas, as nossas Leis, com base na transparência das nossas ações.
Marchemos com os nossos próprios pés, pensemos com as nossas cabeças e vamos construir a Nação que os pais fundadores da nossa República sonharam.
Bem Hajam
VIVA O COORDENADOR NACIONAL BRAIMA CAMARA
VIVA O MADEM G15
VIVA A GUINE BISSAU
VITÓRIA KA NA MAINA
BISSAU,17 DE AGOSTO DE 2024
Victor Mandinga