FONTE: RFI
O movimento cívico da diáspora guineense em Lisboa Firkidja di pubis, reunindo estudantes e trabalhadores, convocou para sábado uma manifestação contra o regime no poder na Guiné-Bissau. Com reivindicações em comum com a Frente Popular guineense, Firkidja di Pubis denuncia ainda a detenção de manifestantes em Bissau, este sábado 27 de Julho.
O movimento Firkidja di Pubis, composto por guineenses da diáspora,tem um programa e reivindicações em comum com a Frente Popular na Guiné-Bissau. Yussef, membro do movimento, que organiza uma concentração em Lisboa a 27 de Julho, contra o regime de Umaro Sissoco Embaló, começa por exprimir solidariedade com os cidadãos detidos em Bissau, no mesmo dia.
"Quero denunciar a situação de manifestantes detidos nas manifestações na Guiné-Bissau, nomeadamente em Bissau. A informação que me chega por parte de camaradas militantes da Frente Popular é que já há detidos e neste momento responsabilizamos o Estado da Guiné-Bissau, particularmente o Ministério do Interior, pela integridade física de todas e todos os manifestantes detidos", condenou Yussef, referindo-se à manifestação prevista em Bissau pela Frente Popular.
De facto, duas manifestações estavam previstas este sábado na capital guineense, uma pró e outra contra o regime do país. Mas, devido ao forte dispositivo policial, nem a Plataforma Firkidja di Povo, apoiantes do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló a um segundo mandato, nem a Frente Popular, que diz lutar pela restauração da democracia no país, chegaram a manifestar.
Tal como explica Yussef, a Firkidja di Pubis faz frente comum com a Frente Popular, no sentido de denunciar os "atentados à democracia" na Guiné-Bissau.
"Temos reivindicações comuns a nível da reabertura da Assembleia Nacional Popular, da legitimação dos órgãos de soberania que são o Supremo Tribunal de Justiça e a Comissão Nacional de Eleições. Denunciamos também os atentados às liberdades democráticas na Guiné-Bissau e apoiamos a frente social que neste momento faz greves no sentido de denunciar as condições precárias relativamente à saúde, e à educação na Guiné-Bissau".
As reinvindicações são várias, avança ainda o activista guineense, e interdependentes. Sem uma "nova composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE)", por exemplo, não será possível realizar eleições presidenciais "livres, transparentes e democráticas", garante.
"As nossas reivindicações vão ao encontro da Constituição da Guiné-Bissau. Reivindicar a convocação e a realização de eleições presidenciais. Neste momento háa eleições legislativas convocadas que não têm qualquer adesão à realidade jurídica da Guiné-Bissau.
Ao mesmo tempo, pensamos que, para que as eleições presidenciais possam ser livres, transparentes e democráticas, há necessidade que os órgãos que e organizam e legitimam possam também ter um respaldo constitucional e legal.
Estamos a falar primeiramente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que está caduca desde 2022. Há necessidade de uma nova comissão executiva que tem que tomar posse e ao mesmo tempo, também a necessidade que o Supremo Tribunal de Justiça, que faz as vestes do Tribunal Constitucional, também tenha respaldo na legalidade, o que não acontece. Mas para que possa ser eleita uma nova Comissão Executiva, há necessidade que a Assembleia Nacional Popular o faça e para isso há necessidade também da sua reabertura", analisa o activista Yussef, em Lisboa.
Para o guineense, a Assembleia Nacional Popular, "dissolvida de forma ilegal", tem que ser "reaberta", na medida em que "reflete o voto do povo guineense, reflete uma vontade popular". Segundo o activista, "acabar com esta instituição é mais um passo na tentativa de esvaziar as várias organizações e instituições políticas que existem na Guiné-Bissau para que o poder se concentre na Presidência da República, numa tentativa de repetir de forma caricatural a ideia 'o Estado sou eu'".
O movimento Firkidja di Pubis procura ainda fazer eco ao conjunto da frente social em greve na Guiné-Bissau, nomeadamente nos sectores da educação e da saúde.