FONTE: RFI
O primeiro-ministro senegalês condenou o silêncio da União Europeia e do chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, durante a repressão política no Senegal que fez mais de 60 mortos, milhares de feridos e presos políticos.
“Durante todo o período de perseguição violenta contra todo um movimento político e que resultou na morte de mais de sessenta pessoas, milhares de feridos e mais de mil presos políticos, nunca se ouviu o Governo francês denunciar o que aconteceu no Senegal", declarou.
Ousmane Sonko denunciou a postura de Emmanuel Macron, que "recebeu e felicitou" o homólogo Macky Sall, “no pior momento da repressão”.
“É um incitamento à repressão, um incitamento à perseguição e execução de senegaleses que não cometeram nenhum outro crime, para além de defenderem um projecto político”, notou.
O primeiro-ministro senegalês disse que muitos governos europeus, especialmente o francês, têm dificuldade em lidar com o discurso político soberanista de alguns líderes africanos.
“Isto explica o silêncio de aprovação face à repressão sangrenta do regime do Presidente Macky Sall contra o nosso partido”, referiu.
O novo primeiro-ministro senegalês, que participou numa conferência com o opositor da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, sublinhou que falava como líder do partido Pastef e não como chefe de Governo.
Ousmane Sonko fez referência à ingerência externa no continente africano, reiterando que não se alinha com essa posição.
“Hoje, a Europa tem os seus próprios problemas com os países que afirmam ser liberais e não respeitam necessariamente as regras da União Europeia. Isto não significa que estes países sejam colocados sob embargo ou que lhes sejam cortados os subsídios europeus. Então por que razão devem os problemas políticos em África ser resolvidos pelos africanos, mas por ordens externas que vão atacar os países irmãos e as suas populações. Nós não podemos aceitar essa situação”, defendeu.
O líder do partido Pastef insistiu na sua oposição à prática de golpes de Estado no continente, porém recusa-se a cortar os laços com os países do Sahel.
"É por essa razão que nós não vamos abandonar os nossos irmãos do Sahel e faremos tudo o que for necessário para fortalecer os laços e ajudá-los no que for necessário. É certo que houve golpes de Estado e certamente ninguém encoraja a prática de golpes de Estado, mas recuso-me a ser aquele que analisa os sintomas e que se recusa a ver as verdadeiras causas", acrescentou.
Ousmane Sonko questionou ainda presença do exército francês e do acesso às bases militares senegalesas, alertando para o impacto desta realidade na soberania nacional.
“Mais de 60 anos depois da nossa independência, devemos questionar as razões pelas quais o exército francês, por exemplo, ainda beneficia de diversas bases militares em nossos países, e sobre o impacto desta presença na nossoa soberania nacional e na nossa autonomia estratégica", concluiu.