O Relatório sobre os Direitos Humanos no Mundo em 2023 divulgado nesta segunda-feira, 22, em Washington, pelo Departamento de Estado americano diz que a Guiné-Bissau não registou melhorias no campo dos direitos humanos em relação ao ano anterior.
O cenĆ”rio descrito revela "relatos credĆveis de tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante por parte do Governo, condiƧƵes prisionais duras, problemas graves com a independĆŖncia do poder judicial, corrupção governamental grave, ampla violĆŖncia baseada no gĆ©nero, incluindo violĆŖncia domĆ©stica, casamento infantil, precoce e forƧado, mutilação genital feminina e trĆ”fico de pessoas, incluindo trabalho forƧado".
O Departamento de Estado afirmou que o "Governo nĆ£o tomou medidas credĆveis para identificar e punir funcionĆ”rios que possam ter cometido violaƧƵes dos direitos humanos".Entretanto, nĆ£o houve relatos de que o Executivo ou os seus funcionĆ”rios tenham cometido execuƧƵes arbitrĆ”rias ou ilegais, incluindo execuƧƵes extrajudiciais.
O documento regista que a organização nĆ£o governamental Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) relatou que "pelo menos 25 pessoas foram sujeitas a tortura ou abuso fĆsico arbitrĆ”rio, enquanto estavam detidas, tendo dois destes casos resultado em ferimentos graves que exigiram hospitalização" mas nenhum dos responsĆ”veis foi punido, de acordo com a mesma fonte.
Cultura de impunidade
Apesar de existirem mecanismos para investigar e processar denĆŗncias de violaƧƵes dos direitos humanos, a LGDH alegou que o "MinistĆ©rio PĆŗblico permitiu a existĆŖncia de uma cultura de impunidade no paĆs, incluindo nas forƧas de seguranƧa e na polĆcia nacional". Muitos centros de detenção estĆ£o gravemente superlotados e tĆŖm ventilação insuficiente, pouca iluminação e fossas sĆ©pticas entupidas.
O relatório, que cita a LGDH, diz que "os prisioneiros nĆ£o tĆŖm Ć”gua potĆ”vel ou corrente e acesso a tratamento mĆ©dico, a nutrição Ć© deficiente e "no Centro de PrisĆ£o Preventiva em Bissau os detidos dependiam das suas famĆlias para terem alimentação". No entanto, conclui que "nĆ£o houve relatos de presos ou detidos polĆticos".
Pressão sobre jornalistas
A constituição e a lei prevêem a liberdade de expressão, incluindo para membros da imprensa e outros meios de comunicação social, e organizações não governamentais e órgãos de fiscalização dos meios de comunicação informaram que "o Governo, em geral, não respeitou este direito".
Os relatores registam que no dia 4 de dezembro, militares ocuparam estaƧƵes de rĆ”dio e televisĆ£o em Bissau durante aproximadamente 48 horas e "embora o Governo alegasse que a medida era uma resposta a uma potencial tentativa de golpe de Estado, os jornalistas disseram que tal foi feito para intimidĆ”-los e impedir a divulgação de notĆcias sobre acontecimentos polĆticos".
O Departamento de Estado destaca que as eleiƧƵes nacionais, realizadas pela Ćŗltima vez em junho, foram amplamente consideradas justas e livres de abusos e irregularidades. Alguns partidos da oposição, no entanto, "alegaram que o pessoal de seguranƧa apoiado pelo Governo os impediu de fazer campanha livremente e de viajar para se encontrarem com apoiantes no perĆodo anterior Ć s eleiƧƵes". Os partidos tiverem, por vezes, a sua atividade de operar livremente coartada, segundo o documento.
Ataques e discriminação baseada no género
"No dia 5 de maio, a residĆŖncia de Fransual Dias, analista polĆtico e membro do oposicionista Partido da Renovação Social, foi atacada por desconhecidos e o seu veĆculo incendiado, Dias afirmou na mĆdia que o ataque teve motivação polĆtica para intimidĆ”-lo por pessoas alinhadas com o Presidente", continua o relatório que cita ainda que "no dia 6 de dezembro, as ForƧas Armadas ocuparam a sede de um partido da oposição, o Partido Africano para a IndependĆŖncia da GuinĆ© e Cabo Verde, expulsaram membros reunidos e bloquearam a entrada no edifĆcio".
Quanto Ć participação das mulheres, o documento aponta que ,embora algumas tenham ocuƧado cargos seniores no Governo, "os observadores acreditam que as opiniƵes relativas aos papĆ©is tradicionais de gĆ©nero em algumas partes do paĆs, especialmente nas zonas rurais, limitam a participação polĆtica das mulheres."
O relatório cita "fontes dos meios de comunicação social e organizaƧƵes nĆ£o governamentais que alegaram que membros da administração militar e civil traficavam estupefacientes e ajudavam cartĆ©is internacionais de droga, proporcionando acesso ao paĆs e Ć sua infra-estrutura de transportes".
"Antonio Indjai, antigo chefe das ForƧas Armadas, continuou a circular livremente no paĆs", conclui o relatório lembrando que ele Ć© alvo de sanƧƵes da ONU pelo seu envolvimento num golpe de Estado bem sucedido em 2012".