FONTE: DEUTSCHE WELLE
Após denúncias sobre circulação de droga em grande quantidade no país, reabre-se debate sobre combate ao tráfico. Observadores dizem que relatos não são encorajadores e colocam Bissau em "descrédito total".
O debate sobre o tráfico de droga foi reaberto e ganhou fulgor na Guiné-Bissau desde que, no passado 27 de janeiro, o antigo primeiro-ministro Nuno Nabiam denunciou a alegada circulação de droga em grande quantidade no país.
A Guiné-Bissau chegou a apreender cerca de duas toneladas de droga, numa operação denominada "Navarra", o que levou as organizações internacionais a reforçar o apelo ao combate ao tráfico e à criminalidade transacional.
Para vários observadores, os últimos relatos não são encorajadores e têm beliscado a imagem do país há muito associado ao tráfico de drogas.
"Se olharmos para todo este cenário, vamos perceber que o tráfico de droga provoca a instabilidade política na Guiné-Bissau, porque aumenta significativamente a criminalidade organizada transacional no país, e destrói uma nação por completo", diz Abílio Có Júnior, secretário executivo do Observatório Guineense da Droga e Toxicodependência, em entrevista à DW África.
Ministro avisa forças de segurança
As autoridades guineenses dizem estar a acompanhar com preocupação as denúncias sobre a suposta circulação de droga no país, depois de no dia 5 deste mês terem sido apreendidos no aeroporto de Lisboa 32 quilogramas de cocaína, transportada em duas malas, alegadamente por um indivíduo proveniente da Guiné-Bissau.
Na semana passada,o ministro do Interior, Botche Candé, visitou o aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, onde deixou um aviso às forças de segurança colocadas no local: "Se passar aqui no aeroporto nem que seja um grama de droga, vocês serão responsáveis".
"Se descurarem e passar um grama de droga no aeroporto, e for descoberto noutro país, a equipa que está de serviço vai para casa. E se alguém embarcar aqui com um documento falso, a equipa que está de serviço vai para casa, porque seria a maior traição ao nosso chefe [de Estado]", avisou o ministro.
"É preciso atualizar leis"
A Guiné-Bissau chegou a criar uma comissão técnica para elaborar um novo plano nacional de luta contra o tráfico de droga, uma equipa que incluía magistrados judiciais, Polícia Judiciária e membros da sociedade.
No entanto, para Abílio Có Júnior, secretário executivo do Observatório Guineense da Droga e Toxicodependência, "é preciso a atualização das leis de combate ao tráfico de droga, porque as atuais na Guiné-Bissau estão em caducidade há vários anos".
"É preciso que todos esses elementos sejam colocados em prontidão para serem usados e aplicados em qualquer situação [de ameaça]", explica.
Segundo o jornalista Bacar Camará, não se pode combater o tráfico de droga na Guiné-Bissau sem o funcionamento da justiça: "É necessário que o sistema judicial [guineense] funcione, no sentido de que as pessoas suspeitas [do tráfico de droga] sejam trazidas à justica, condenadas e cumpram as suas penas de prisão. É isso que tem faltado e colocado o país numa situação de descrédito total".