FONTE: DEUTSCHE WELLE
Analista político guineense considera que a saída de Geraldo Martins do cargo de primeiro-ministro é uma boa decisão para evitar apadrinhar "ilegalidades" do Presidente da República.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, exonerou esta quarta-feira (20.12) o primeiro-ministro Geraldo Martins, que tinha sido reconduzido no cargo a 13 de dezembro, depois da dissolução do Parlamento.
As funções de chefe do Executivo passam agora a ser desempenhadas por Rui Duarte Barros, um dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Ouvido pela DW África, o analista Diamantino Lopes admite que a iniciativa de renunciar ao cargo tenha partido de Geraldo Martins. Diamantino Lopes acredita que o agora ex-primeiro-ministro se tenha querido distanciar do que "não está certo".
DW África: Como explica essa exoneração de Geraldo Martins do cargo de primeiro-ministro, quando não passa mais de uma semana desde a sua recondução?
Diamantino Lopes (DL): Geraldo Martins compreendeu que há uma insustentabilidade da relação dele com o Presidente...
DW África: Então, esta demissão pode ter sido da iniciativa própria de Geraldo Martins?
DL: Dá para perceber a insustentabilidade política, talvez a perspetiva de Geraldo Martins não coincida com a intenção do Presidente da República. Então, quando é assim, o que faz sentido é recuar.
Mas valeu a pena a tentativa. Errado era não tentar encontrar uma solução para o problema, mas chegou a um ponto de insustentabilidade e recuou. Também compreendemos essa posição.
DW África: Ou seja, no seu ponto de vista, Geraldo Martins, que é militante do PAIGC, partido que considera a dissolução do Parlamento ilegal, terá decidido recuar nesse projeto de Umaro Sissoco Embaló, uma vez que, ao aceitar prosseguir, estaria a "apadrinhar" essa ilegalidade?
DL: Geraldo Martins foi o primeiro-ministro indicado pela coligação PAI - Terra Ranka, é o primeiro vice-presidente do PAIGC, e nessa situação de tumulto político seria uma vantagem tê-lo a ele como elo entre as partes.
Portanto, tudo indica que ele compreendeu que não seria exatamente assim. Além disso, estão a acontecer eventos que não ajudam a essa investida política por parte dele. É cumplicidade demais com o que não está certo. Então, faz sentido abandonar.
DW África: E quem é Rui Duarte Barros, o novo primeiro-ministro?
DL: Em 2012, já foi ministro da Economia. É o atual presidente do Conselho de Administração da Assembleia Nacional Popular. A sua aparição na lista dos deputados do PAIGC surpreendeu-me bastante.
DW África: Rui Duarte Barros é militante do PAIGC. Como será a relação com Umaro Sissoco Embaló?
DL: Não sabemos se ele vai conseguir coabitar com o Presidente da República. Também não sabemos se ele vai seguir em frente com essa nomeação, porque ainda não ouvimos nada dele.
DW África: Acha que já estão lançadas as bases para que, no futuro, se possa alcançar a estabilidade política na Guiné-Bissau, já com a indicação de um novo nome para ocupar o cargo de primeiro-ministro?
DL: Nos próximos tempos, não podemos esperar a estabilidade política e governativa no país, considerando o facto de que houve uma violação da Constituição da República no que concerne à dissolução do Parlamento. E tudo indica que haverá reivindicações para repor a ordem constitucional.
Há dúvidas também se o Governo vai prevalecer. Os governos não constitucionais conseguem ter mais tempo de vida do que os governos constitucionais, mas esperamos uma luta política nos próximos tempos.