FONTE: DEUTSCHE WELLE
Panificadores e Governo não se entendem e a crise de pão continua na Guiné-Bissau. Executivo diz que a decisão de baixar o preço do produto é para manter. Analista reprova envolvimento de Umaro Sissoco Embaló no caso.
O Governo e a Associação dos Panificadores acordaram que, a partir de 24 de setembro, Dia da Independência da Guiné-Bissau, um pão passaria a custar 150 Francos CFA (22 cêntimos do Euro), em vez de 200 Francos CFA (30 cêntimos do Euro).
Entretanto, há uma semana que escasseia pão no país. Inicialmente, as padarias foram encerradas pelos próprios padeiros, que alegam prejuízo caso pratiquem o novo preço estipulado pelo Governo. Agora, produzem o pão, mas em pouca quantidade que não chega para fazer face à procura da população.
Os padeiros exigem a renegociação com o executivo e a nova baixa do preço da farinha de trigo. A farinha custava 29.000 Francos CFA (pouco mais de 43 euros), mas o executivo decidiu fixar um novo preço de 24. 600 Francos CFA (pouco mais de 37 euros), que ainda assim não agrada aos panificadores.
Um grupo de padeiros, que não concorda com o novo preço de pão, critica a Associação que os representa pela assinatura do acordo com o Governo.
"Pensávamos que eles, enquanto nossos dianteiros, podiam resolver os nossos problemas, mas afinal não podem. Os mandatámos para negociarem com o Governo. Entretanto, foram assinar o acordo, à revelia. Muitos padeiros não concordaram com a proposta do preço do pão feita pelo Governo e tinham-lhes dito para não assinar o acordo, caso contrário não teria efeito", explica Adulai Djaló, em representação do grupo de padeiros.
Evitar uma crise no país
Mas este sábado (30.09), um grupo de associações dos comerciantes e retalhistas dos mercados da capital guineense apelou ao cumprimento da decisão governamental sobre o novo preço de pão. Bubacar Martins Sambú, um dos que se pronunciaram, disse que é preciso evitar a crise no país.
"Se hoje o preço de um pão é fixado em 150 Francos CFA, penso que não há problema. E os padeiros que acatem a decisão do Governo e se entendam e evitem provocar crise entre as instituições do Estado. Nós somos comerciantes e retalhistas, queremos também o bem do povo para que possamos crescer", defende.
Na passada quarta-feira, durante uma reunião com os padeiros que contestam o novo preço de pão, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, disse aos panificadores para continuarem a vender o pão mais caro, a 200 Francos CFA, até que uma solução seja encontrada.
Mas inconformados com o que consideram ser "negligência" dos panificadores, grupos de cidadãos têm atacado e roubado os pães aos padeiros nas ruas e nos lugares de venda, em diferentes bairros de Bissau.
A situação motivou um encontro de emergência entre o grupo de padeiros e o ministro do Comércio, Jamel Handem. O governante apelou à calma à população, "que deve evitar fazer justiça pelas próprias mãos".
Decisão do Governo é inegociável
No entanto, Jamel Handem afirma que a decisão do Governo de baixar o preço do pão é inegociável.
"A farinha [da marca] bola-bola é que está no quadro do acordo que fizemos com o importador, e o pão dessa farinha tem que ser vendido a 150 Francos CFA. Nisto nós não recuamos. Mas se a pessoa faz um pão com o dobro do tamanho e quiser vendê-lo a 200 Francos CFA, isso é outra coisa. Mas em tamanho de 150 Francos CFA, não podem vender um pão feito com a farinha bola-bola a 200 Francos e isso está claro", sublinha.
Para vários observadores, a intervenção do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, no assunto acabou por complicar a situação e defendem um espírito apaziguador do chefe de Estado.
À DW África, o jurista Cabi Sanhá reprova o envolvimento de Sissoco Embaló no caso.
"A intervenção do Presidente da República no assunto, na verdade, é preocupante. Nós pensávamos que o Presidente da República, depois de três anos na Presidência, tinha aprendido alguma coisa no sentido de evitar muitas atuações. Isso seria bom para o país e, sobretudo, neste momento".
Cabi Sanhá insiste que "o assunto do pão é do Governo".
"E se o Governo negociou e decidiu baixar o preço da farinha para a consequente baixa do preço do pão, é um assunto da governação. O Presidente da República devia ativar o seu pulmão de mediador, apaziguador e de quem luta para a paz social. Mas fez o contrário. Em vez de apagar, está a atiçar o fogo e a intrigar os padeiros com o Governo", remata.
Acredita-se que o pão é o segundo produto de maior consumo na Guiné-Bissau, a seguir ao arroz. A escassez tem criado transtornos à população, que não apela à resolução da crise.