terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cabral e a questão israelo-palestiniana

FONTE: A Nação

“Nós temos por princípio defender as causas justas. Somos pela justiça, pelo progresso do homem e pela liberdade dos povos. Nesta base, consideramos que a criação de Israel feita pelos Estados imperialistas para manter a sua dominação no Médio Oriente foi qualquer coisa de artificial cuja finalidade era criar problemas nesta importante região do mundo. Eis a nossa posição: o povo judeu que pratica a religião judaica tem direito à vida e tem vivido muito bem em diversos países do mundo. Pesa-nos muito que os nazis tenham destruído mais de 6 milhões de judeus durante a última guerra mundial. Mas não pensamos que isso possa dar aos judeus o direito de ocupar uma parcela da nação árabe. Consideramos que o povo da Palestina tem direito à sua terra. Consideramos, pois, que as medidas adotadas pelos povos árabes, pela nação árabe para reconquistar a pátria palestiniana são justas. 

Nós, neste conflito que põe em perigo a paz mundial, estamos totalmente ao lado dos povos árabes que apoiamos incondicionalmente. Fazemos votos para que não haja guerra, mas desejamos que os povos árabes consigam libertar o povo da Palestina, libertar a nação árabe desse elemento de perturbação e de dominação imperialista que é Israel”

Advertência 

As declarações e o posicionamento de líderes políticos devem ser vistos de acordo com o seu tempo, no caso presente dessas afirmações de Amílcar Cabral, em 1969.

Sabendo que no final dos anos de 1960, a grande maioria dos países árabes apoiavam a luta armada levada a cabo pelo PAIGC, nas matas da Guiné, e que dois anos antes, em 1967, Israel travara uma guerra com países árabes (Egípto, Síria, Iraque, Jordânia), ocupando, depois, a Península do Sinai, a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém Oriental e os Montes Golã, compreende-se o posicionamento de Amílcar Cabral em favor dos países amigos e aliados da sua causa.

Mas o mundo, entretanto, mudou. E, ver hoje a questão palestiniana a partir de pronunciamentos com mais de 50 anos é, por si só, um 

exercício arriscado. Basta para tanto lembrar que só muito recentemente o mundo passou a admitir, como algo normal, a existência de dois Estados no território da antiga Palestina, um Israel e outro a Palestina. Foi isso, entre outras razões, que levou Cabo Verde e outros países africanos a estabelecerem relações com Israel, cuja evolução continua, contudo, a depender da forma como os jogadores do xadrez do Médio Oriente se vão comportando. 

As excepções partem, principalmente, do Irão, Síria, Afeganistão e de uns quantos movimentos e grupos radicais como o Hamas, o Hezbollah, a Al Qaeda, que continuam a defender a destruição do Estado hebreu e tudo que seja Ocidente, da mesma forma que há gente em Israel que defende que o pouco território que resta aos palestinianos deve ser ocupado pelos judeus, em nome de um direito histórico, que remonta aos tempos da Bíblia. Como sempre, cada extremo precisa do outro para existir. A acção do Hamas, de 7 de Outubro, enquanto expressão do arrastar do problema palestiniano, veio mostrar isso, uma vez mais.

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